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Metroviários Fizeram Passeata Pelo Centro do Recife Em Defesa da Greve e Contra a Privatização do Metrô - Beto Dlc/jc Imagem |
No meio das assembleias do metroviários do Recife, enquanto os dirigentes sindicais fazem inflamados discursos sobre a urgência de verbas para reequipar o sistema de trens metropolitano na frente da entrada da Estação Central no bairro de São José, funcionários da companhia confessam entre si a frustração com a falta de atenção do governo Lula para com a situação do CBTU. O Metro está em greve desde quinta-feria (3) da semana passada.
“Como pode? No governo do Lula. A gente vê a cada dia reduzirem as esperanças de uma solução para a situação do Metrô? A gente lutou na rua para que Bolsonaro não se reelegesse, pois certamente ele iria privatizar o sistema. Brigamos para que Paulo Câmara não aceitasse a oferta do sistema que previa a concessão ao estado. E agora a gente sente esse abandono ", diz um velho metroviário falando sob condição de anonimato.
O desabafo faz sentido. Envolvidos numa greve por tempo indeterminado. Obrigados pela Justiça do Trabalho de colocar 60% da frota, eles sabem que perderam força e que o movimento tende a ficar mais isolado perante a população e as autoridades.
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Metroviários Realizam Paralisação de 48h do Metrô do Recife. Movimento Termina Nesta Quinta-feira (27), Às 22h - Foto: Guga Matos/jc Imagem |
No meio das assembleias do metroviários do Recife, enquanto os dirigentes sindicais fazem inflamados discursos sobre a urgência de verbas para reequipar o sistema de trens metropolitano na frente da entrada da Estação Central no bairro de São José, funcionários da companhia confessam entre si a frustração com a falta de atenção do governo Lula para com a situação do CBTU. O Metro está em greve desde quinta-feria (3) da semana passada.
“Como pode? No governo do Lula. A gente vê a cada dia reduzirem as esperanças de uma solução para a situação do Metrô? A gente lutou na rua para que Bolsonaro não se reelegesse, pois certamente ele iria privatizar o sistema. Brigamos para que Paulo Câmara não aceitasse a oferta do sistema que previa a concessão ao estado. E agora a gente sente esse abandono ", diz um velho metroviário falando sob condição de anonimato.
O desabafo faz sentido. Envolvidos numa greve por tempo indeterminado. Obrigados pela Justiça do Trabalho de colocar 60% da frota, eles sabem que perderam força e que o movimento tende a ficar mais isolado perante a população e as autoridades.
A greve do Metrô sofre por parte dos dirigentes da CBTU, em Brasília, o pior dos sentimentos: a indiferença. Eles chegaram a fazer um acordo que garantia correções mínimas com a direção regional, mas foram informados que a CBTU desautorizou o acordo obrigando-os a radicalizar numa greve que tende a se esvaziar se não for suspensa esta semana.
Os dirigentes estão à procura de qualquer apoio para sua causa. Eles foram pedir ajuda ao mesmo Paulo Câmara (hoje presidente do Banco do Nordeste) a quem, no ano passado, fizeram uma furiosa campanha para que não desse prosseguimento ao processo de concessão. Também foram pedir ajuda na Sudene, ao superintendente Danilo Cabral. Nenhum dos dois pode fazer nada, mas prometerma ajudar.
Fora os deputados e senadores do PT - que parecem estar mais preocupados em colocar fotos nas suas redes sociais - do que pressionar o ministério das Cidades para ao menos encaminhar uma solução para a crise do sistema que atende 200 mil passageiros e que está sucateado ninguém quer ajudar o Metrô do Recife.
O assunto chegou a ser abordado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, provocado pela jornalista Nathália Ribeiro da Rádio Jornal que disse acreditar que a CBTU, ao menos, sairia da lista de empresas passíveis de concessão em que até hoje está incluída. Mas Haddad se apressou em dizer que a solução teria que ser dada pelo ministério das Cidades ao qual a CBTU está vinculada.
O Sistema Nordeste (onde estão o Metrô e as operações de VLT de Maceió, João Pessoa e Natal) é o que sobrou da CBTU depois que o sistema de Minas Gerais foi privatizado. Pelo tratamento dispensado até agora, ninguém está interessado numa solução para o caso. Nenhum dos governadores dos estados onde tem VLT quer se abraçar com o sistema.

E mesmo em Pernambuco, a governadora Raquel Lyra só manifestou a posição de aguardar uma solução vinda da União. Não há da parte dela um compromisso público de se habilitar ao gerenciamento do sistema. Até porque apenas para ajustá-lo minimamente precisaria de alocar R$1 bilhão. A governadora diz que confia numa solução vinda do Governo Federal.
Nos 71 quilômetros do sistema que serve aos municípios de Recife, Jaboatão e Camaragibe a situação é dramática. E opera37 estações, três linhas (das quais, duas são eletrificadas).
Mas algumas dessas estações estão sem parte dos telhados, trens estão sendo canibalizados e em média o sistema sofre um ataque a cada três dias de ladrões de cabos. O sistema ainda sofre com o envelhecimento do quadro de funcionários depois de 35 anos de operação.
O projeto do Trem Metropolitano do Recife foi elaborado entre 1975 e 1982 pela Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes (GEIPOT). Em maio de 1981 o governo brasileiro obteve um financiamento para o projeto, de US$ 230 milhões, junto aos bancos Westdeutsche Landesbank Girozentrale e Lloyds Bank International.
O projeto saiu numa articulação liderada pela Construtora Norberto Odebrecht que o construiu . Em 11 de março de 1985 ocorreu a inauguração do primeiro trecho, entre as estações Recife e Werneck. Por anos, foi considerado o melhor sistema do Brasil.
A SERVIÇO DO REI JESUS
Mas hoje, o Metrô do Recife virou ponto de subemprego de, ao menos, 2 mil ambulantes, que vendem de tudo nas composições. No metrô é possível comprar acessórios de telefonia à picolé. De bolsas e sandálias à mercadoria declaradamente roubada pelos vendedores. Ah, também é palco da maior mobilização das igrejas evangélicas neopentecostais na atração de fiéis com pregações em todas as composições.
A situação de descaso no Metrô do Recife chegou ao ponto em que no Governo Lula ninguém do PT se habilitou a administrá-lo. Virou moeda de troca de partidos do centrão que despacharam para sua superintendência quadros sem capacitação e prestígio desde o governo Michel Temer. O Metrô é um caso raro de uma autarquia que ninguém quer dirigir.
A greve por tempo indeterminado é um gesto de desespero dos servidores que já não acreditam numa solução para o sistema a nível do governo federal. Numa situação de crise o que sobra são as declarações de políticos tentando se capitalizar.
Mesmo que seja excluída da lista de concessões não há indicações de que alguma verba além do orçamento de R$300 milhões seja destinada ao sistema. Esta semana uma comissão do Senado vem ao Recife “inspecionar” o sistema. Devem também visitar a governadora Raquel Lyra. Vai ser mais uma oportunidade de eles garantirem likes e post nas suas redes sociais.
Mas quando voltarem a Brasília o Metrô vai continuar sem solução. Correndo o risco de que algum dia, sem condições de funcionar, ele simplesmente deixe de operar.

Jornal do Commercio
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