A prisão do ex-ministro do Turismo Gilson Machado (PL), na manhã desta sexta-feira (13), em Recife (PE), reforça a percepção de que há uma escalada de perseguições políticas no Brasil. A ação foi autorizada pela Justiça Federal, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), e ocorre em meio a uma sequência de investigações que miram de forma quase exclusiva apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Segundo a Polícia Federal, Machado teria atuado para tentar viabilizar um passaporte português para Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, com o suposto objetivo de facilitar sua saída do país. O fato é que o passaporte sequer foi emitido, e não há evidências concretas de que qualquer viagem tenha sido sequer marcada — o que não impediu a prisão preventiva do ex-ministro.

A acusação de "obstrução de justiça" se baseia mais em suposições do que em provas diretas. A própria PGR admite, em documento, que Machado não teve sucesso em sua tentativa junto ao consulado português, mas alega que ele "poderia vir a tentar alternativas em outros países". Uma suposição que, estranhamente, serviu de base para privar de liberdade um cidadão brasileiro que sequer foi condenado.

Outro motivo alegado para justificar a prisão seria a campanha de arrecadação feita por Machado em sua conta no Instagram, com doações destinadas ao ex-presidente Bolsonaro — algo que, até onde se sabe, não é crime no Brasil.

A prisão ocorre dias depois de o procurador-geral Paulo Gonet solicitar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de um inquérito contra Machado por suposta obstrução de investigação e favorecimento pessoal. O pedido foi enviado diretamente ao ministro Alexandre de Moraes, figura central no embate entre o Judiciário e conservadores nos últimos anos.

O caso de Gilson Machado soma-se a uma série de prisões e investigações contra figuras ligadas à direita, o que tem gerado um sentimento crescente de insegurança jurídica, aparelhamento das instituições e censura política. Na avaliação de aliados, a prisão é mais uma etapa da tentativa de criminalização do bolsonarismo no Brasil.

Mauro Cid, também preso na mesma operação, é delator em inquéritos sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado, tese cada vez mais questionada por juristas independentes que apontam inconsistências e fragilidade de provas nos autos.

Gilson Machado, que comandou o Ministério do Turismo entre 2020 e 2022 e é conhecido por sua defesa enfática do conservadorismo, ainda não se manifestou publicamente. A defesa de Cid também não comentou a prisão até o momento.

Enquanto isso, cresce o questionamento: estamos diante do combate à corrupção ou da perseguição sistemática a um grupo político específico? O Brasil, que deveria prezar pela pluralidade e pela isenção do sistema de justiça, parece trilhar um caminho perigoso — em que o risco não é apenas jurídico, mas democrático.


PE Notícia

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